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Esquizofrenia e Fatores Ambientais

Esquizofrenia e Fatores Ambientais

A esquizofrenia é um transtorno mental crônico que pode apresentar sintomas diferentes em pacientes distintos.

 

A Associação Americana de Psiquiatria (2015) aponta cinco sintomas cardinais para o diagnóstico da esquizofrenia: 

• Delírios (crenças infundadas, que não mudam mesmo à luz de evidências conflitantes);
• Alucinações (experiências sensoriais que ocorrem sem um estímulo externo); 
• Desorganização do pensamento; 
• Comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal; 
• Sintomas negativos. 

As perdas do desenvolvimento funcional e sociocultural do indivíduo são percebidas em boa parte dos casos e, apesar de ser inquestionável a necessidade e importância do uso de medicamentos, vários pacientes podem permanecer ainda com funcionamento prejudicado sob vários pontos de vista. Isso é tão comum que mesmo os conceitos de remissão e estabilidade em esquizofrenia levam em consideração a possibilidade de haver um quadro residual, mais ou menos importante, a depender do caso. 

Muitos estudos têm sido feitos na tentativa de encontrar os fatores envolvidos na gênese e manutenção desse transtorno. Até o momento, um dos entendimentos mais largamente aceito é o de que há uma predisposição determinada geneticamente, passível de ser “ativada” por fatores ambientais.

Em artigo publicado em 2007, Yanos e Moss propuseram um modelo que integra seis aspectos relacionados à vida do indivíduo aparentemente relacionados à gênese da esquizofrenia. Tais aspectos são: 

• Condições ambientais duradouras: compreendem os recursos (rede de apoio familiar, recurso familiar), fatores estressores (relacionamento familiar, vizinhança não amigável) e “clima” social (presença de estigma social, condições econômicas); 
•“Sistema" de funcionamento pessoal: capacidade cognitiva (QI) e traços estáveis (identificação, traços de personalidade, autoestima, autoconfiança); 
• Experiências transitórias / episódicas anteriores: experiências de abuso ou trauma, intervenções em saúde mental, eventos estressantes, mudanças sociais e relações estigmatizadas; 
• Características cognitivas: conhecimento / insight e modelos de doenças; 
• Capacidade de enfrentamento: estratégias de enfrentamento (ativo/esquiva), uso de substâncias como medidas de enfrentamento e adesão à medicação; 
• Funcionamento e bem-estar: integração à comunidade (engajado em atividades comunitárias), funcionamento social (trabalho, independência, relacionamentos interpessoais, atividades de lazer) e satisfação na vida / presença de sofrimento psicológico. 

Mais recentemente, em 2010, Van Os et al apresentaram, na revista Nature, uma revisão na qual identificaram que fatores como fazer parte de um grupo minoritário, crescer em ambientes urbanos, fazer uso de maconha ou ter sido exposto a determinados fatores de risco na fase pré-natal (como, por exemplo, estresse materno, deficiência nutricional materna, infecções virais e bacterianas específicas, baixo ou alto nível de vitamina D neonatal etc.) mostravam-se relacionados a um maior risco de desenvolver esquizofrenia. 

Parece fácil entender por que fatores como os descritos são capazes de facilitar o desencadeamento de um transtorno psiquiátrico e a manutenção de sintomas residuais, mas para os estudiosos da área é necessário que haja evidência não apenas dessa relação, mas também de quais são exatamente as variáveis envolvidas. Assim, podemos pensar em desenvolver e testar as estratégias de tratamento ou prevenção que usaremos no futuro.

É certo que atualmente não é possível tratar a esquizofrenia adequadamente sem o uso de medicamentos. No entanto, também é essencial para a obtenção de melhores resultados que os pacientes sejam submetidos a um cuidado multidisciplinar. Atualmente, há diferentes estratégias de tratamento propostas, medicamentosas, psicoterápicas ou de caráter psicossocial. A terapia cognitivo–comportamental (TCC), a análise do comportamento, a reabilitação (psicossocial ou cognitiva) e o treinamento de habilidades sociais têm sido amplamente indicados para o tratamento dos sintomas residuais nesse transtorno.

Texto escrito por:
• Anny Karinna P. M. Menezes - Médica Psiquiatra e Analista do Comportamento (CRM-SP 89012; RQE 29874)

 

 

 

 


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