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A Aprendizagem

A Aprendizagem

Iniciamos este texto com um questionamento que o embasará: “O que é aprender e como se dá este processo?” Para responder tais questionamentos, primeiramente ressaltamos que tentaremos dar uma visão geral sobre o processo de aprendizagem e falaremos um pouco sobre a deficiência de aprendizado.

Existem diferentes conceitos sobre aprendizagem e todos eles concordam em si ao afirmarem que a aprendizagem implica numa relação bilateral, tanto da pessoa que ensina como da que aprende. Dessa forma, a aprendizagem é melhor definida como um processo evolutivo e contínuo, que envolve um conjunto de modificações no comportamento do indivíduo, tanto a nível físico como biológico, e do ambiente no qual está inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos comportamentos.

A aprendizagem é um processo contínuo que depende da memória e da atenção. A memória auxilia no processo de armazenamento de dados para a utilização posterior, e a atenção permite localizar sistemas e subsistemas anátomo-funcionais que trabalham “como redes em paralelo, permitindo uma atuação simultânea e interativa nas tarefas cognitivas” (PAULA, et al. 2006, pg. 225).

O processo de aprendizagem se dá no Sistema Nervoso Central (SNC), uma estrutura de altíssima complexidade e de vital importância para os seres vivos. Sem uma organização cerebral integrada, intra e interneurossensorial, não é possível que haja uma aprendizagem normal (RIESGO et al. 2006). Por isto, aprender implica que certas funcões do cérebro devem estar funcionando adequadamente, como o sistema nervoso periférico, responsável pelos receptores sensoriais, e o sistema nervoso central, responsável pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação resultante da resposta apropriada do organismo. Para autora, o ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrinsecos (experiência).

Agora, será que podemos afirmar com 100% de garantia que um cérebro com estrutura normal, com condições funcionais e neuroquímicas corretas e material genético adequado tem um aprendizado normal? Segundo ROTTA, em RIESGO et al. 2006, não, porque existem falhas intrínsecas e extrínsecas que alteram as possibilidades da criança aprender, independente de suas condições neurológicas.

As falhas intrínsecas podem ser primárias e secundárias. As primárias são as provocadas por quadros como a dislexia, a discalculia, a dispraxia, a disgnosia e o déficit de atenção e hiperatividade, e as secundárias são aquelas provocadas por problemas físicos em geral, como problemas de visão, de audição, desnutrição, entre outras. As falhas extrínsecas são as relacionadas com o ambiente socioeconômico, cultural e afetivo.

Segundo SIQUEIRA E GURGEL (2011), as deficiências de aprendizagem, relacionadas a diversas causas, ocorrem em 15 a 20% das crianças no primeiro ano de escolaridade e podem chegar a 50% dos escolares nos primeiros seis anos na escola.

E quando falamos de transtorno de aprendizagem? Os transtornos da aprendizagem compreendem uma inabilidade específica (Ohlweiler in RIESGO et al, 2006), como de leitura, escrita ou matemática, em indivíduos que apresentam resultados muito abaixo do esperado para seu nível intelectual e escolar.

A prevalência dos transtornos a aprendizagem varia de 2 a 10% dependendo do tipo de teste neuropsicológico aplicado. Deve-se suspeitar de transtorno de aprendizagem quando nos resultados de uma avaliação neuropsicológica encontramos crianças com desempenho onde: tenha nível de inteligência normal, não apresente alterações motoras ou sensoriais, tenha um bom ajuste emocional e possua um nível socioeconômico e cultural aceitável.

O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais - quinta edição (DSM-5) que é publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA), classifica os transtornos Específicos de Aprendizagem (TEAs) em transtornos:

• Com prejuízo na leitura (imprecisão na leitura de palavras, baixa velocidade ou fluência da leitura, e incompreensão da leitura); 
• Com prejuízo na expressão escrita (imprecisão na ortografia, imprecisão na gramática e na pontuação, e falta de clareza ou desorganização da expressão escrita);
• Com prejuízo na matemática (falta de senso numérico, incapacidade de memorização de fatos aritméticos, imprecisão ou falta de fluência de cálculo, e imprecisão no raciocínio matemático).

O manual especifica a gravidade (atual) dos transtornos como: Leve, Moderada, Grave.

A aprendizagem normal é o esperado numa sociedade competitiva e cheia de desafios e onde o sucesso do indivíduo está ligado ao bom desempenho escolar. Talvez se deva a isto o fato de que cada vez mais os problemas relacionados à aprendizagem têm sido estudados pelos profissionais da saúde e da educação, e aparecido na mídia.

Por isto, nós profissionais da área da saúde e os da educação devemos estar atentos para os possíveis sinais que tais dificuldades e transtornos apresentam para que seja feito o diagnóstico e a criança seja auxiliada neste difícil processo.

 

Texto escrito por:
Vitorina Ferraz - Neuropsicóloga e Analista do Comportamento (CRP 6/93844)

 

¹. American Psychiatric Association – DSM V TR Maual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais - 5ª Ed. Porto Alegre Editora Artmed, 2013.

². PAULA, Giovana Romero; BEBER, Bárbara Costa; BAGGIO, Sandra Boschi e PETRY, Tiago. Neuropsicologia da aprendizagem. Rev. psicopedag. [online]. 2006, vol.23, n.72 [citado 2015-05-18], pp. 224-231 . Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php…>. ISSN 0103-8486.

³. SIQUEIRA, Cláudia Machado, & GURGEL-Giannetti, Juliana. Mau desempenho escolar: uma visão atual. Revista da Associação Médica Brasileira, 57(1), 78-87. (2011).

4. RIESGO, Rudimar Santos, OHLWEILER, Lygia e ROTTA, Newra Tellechea Transtornos da Aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidi.sciplinar - Porto Alegra – Ed. Artmed, 2006.

 

 

 


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